Barros de Beja
Ledos campos de Outrora! em plena festa.
Por onde a minha infância,
Ditosa, decorreu,
Entre fumos de cálida fragrância,
Deslumbramentos, extases do Céu.
Que resta
Desse inefável, em que tudo abria
Em flor e lumes siderais,
Desse inefável de algum dia ?
Vago, indistinto
Sorrir de pôr-do-sol -um sonho extinto...
Uma saudade a desfolhar-se em ais.
Pudesse eu regressar
A mim, volver
Ao intimo do ser,
Ao Anjo em que vivi transfigurado,
De longe em longe, como absorto, a errar...
Plainos de oiro de Beja do Passado,
Da minha clara infância e de outro Mundo,
Libertai-me do sono em que me afundo...
Que eu seja Luz, constelação sagrada,
O' voo para Deus duma «queimada»
Abril de 1960
MÁRIO BEIRÃO
Vales de verdes pinos tão sòzinhos
" Vales de verdes pinos tão sozinhos,
Alumiados da graça do Senhor;
E, em arroubos ao Céu, - jardins em flor
De enlaçadas roseiras sem espinhos...
Ermidas onde ajoelham pobrezinhos,
Sorrindo, como Cristo, à própria dor;
Planícies de enigmático torpor
Onde se escutam vagos murmurinhos...
Por ti, meu pensamento é mais profundo
E o meu canto mais alto se alevanta,
Ó Lusitânia, coração do Mundo!
O mar ergue o teu nome em seus delírios!
E, em tardes de milagre, - ó mais que santa,
Sobre o teu corpo o céu desfolha lírios!
MÁRIO BEIRÃO
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