Na minha língua fala a montanha
quando oliveiras amadurecem
os seus frutos negros, mediterrânicos
Quando a cor rósea das cerejas
maduras incendeia o horizonte
Quando, no verão, estalam os cardos
sob os passos ligeiros dos amantes
que, à hora da sesta, se desnudam
em tufos de feno Na minha língua
há ainda estes trilhos de cabras
pó e seixos rolando sob os pés
descalços duma criança que vive
e grita, o puro animal feliz,
em alegres correrias e jogos
despreocupados Na minha língua
moram as palavras dessa criança
quando a noite acorda e cobre
de infinito e estrelas ínfimas
e esperança os seus olhos muito
abertos e povoados de anjos
e de palavras a nenhum exército
ou senhor entregues Na minha língua
fala a montanha que há em mim
e me chama, retinta de verdade
Poema de P. M. Carregã
Sem comentários:
Enviar um comentário