quinta-feira, 15 de março de 2012

pequena biografia + poema de Carlos Queirós



                                                             Carlos Queirós


Nasceu em 1907, em Paris.

Poeta, ensaísta, crítico literário e de arte, estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se funcionário da Emissora Nacional, onde organizou programas culturais. Assíduo colaborador da Presença e de outras publicações literárias, foi considerado um elo de ligação entre a geração presencista e a de Orpheu.

Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo.
Morreu em 1949, em Paris.
Algumas obras:

Poesia


Desaparecido (1935)

Breve Tratado da Não-Versificação (1948)

Desaparecido e outros Poemas (1957)

ProsaHomenagem a Fernando Pessoa (1936)



APELO À POESIA

Porque vieste? - Não chamei por ti!
Era tão natural o que eu pensava,
(Nem triste, nem alegre, de maneira
Que pudesse sentir a tua falta...)
E tu vieste,
Como se fosses necessária!

Poesia! nunca mais venhas assim:
Pé ante pé, cobardemente oculta
Nas ideias mais simples,
Nos mais ingénuos sentimentos:
Um sorriso, um olhar, uma lembrança...
– Não sejas como o Amor!

É verdade que vens, como se fosses
uma parte de mim que vive longe,
Presa ao meu coração
Por um elo invisível;
Mas não regresses mais sem que eu te chame,
– Não sejas como a Saudade!

De súbito, arrebatas-me, através
De zonas espectrais, de ignotos climas;
E, quando desço à vida, já não sei
Onde era o meu lugar...
Poesia! nunca mais venhas assim
– Não sejas como a Loucura!

Embora a dor me fira, de tal modo
Que só as tuas mãos saibam curar-me,
Ou ninguém, se não tu, possa entender
O meu contentamento...
Não venhas nunca mais sem que eu te chame,
– Não sejas como a Morte!







Óssip Mandelstam - Epigrama de Stalin

Este poema anti-stalinista levou à prisão do autor em 1934.

Mandelstam Stalin Epigram-c.jpg

Nós vivemos, mas não sentimos a terra com os pés
Dez passos andando e não podemos ouvir,

E quando há dois suficientes para metade de um diálogo
Eles se lembram do alpinista do Kremlin.

Seus dedos gordos são escorregadios como lesmas,
E suas palavras são absolutos, como medidas de merceiros.

Suas antenas de barata estão rindo,
E sua bota nova brilha.

E ao redor dele a turba de chefes de pescoço curto -
Ele brinca com os serviços de meio-homem.

Quem gorjeia, mia ou geme,
Ele sozinho empurra e pica.

Ele esmaga-os como ferraduras, com decreto após decreto
Na virilha, na testa, no rosto, ou no olho.

Quando há uma execução, há tratamento especial,
E o peito ossétio se infla.

Novembro de 1933

Silvae de João Queiroz e frase de Valéry Larbaud



"A arte é ainda a única forma suportável da vida; é o maior prazer, e o que se esgota menos depressa."
Valéry Larbaud