sábado, 18 de maio de 2013

Borges, A chave de Salónica


A Chave em Salónica
Abarbanel, Farias ou Pinedo
atirados de Espanha por ímpia
perseguição, conservam todavia
a chave de uma casa de Toledo.
Livres agora da esperança e do medo,
olham a chave ao declinar do dia;
no bronze há outroras, distância,
cansado brilho e sofrimento quedo.
Hoje que sua porta é poeira, o instrumento
é cifra da diáspora e do vento,
como essa outra chave do santuário
que alguém lançou ao azul quando o romano
com fogo temerário acometeu,
e que no céu uma mão recebeu.
Jorge Luís Borges,
in El Otro, El Mismo, 1964


Este belo poema de Borges – que se considerava a si próprio um descendente de judeus portugueses fugidos da Inquisição –, vem a propósito de um interessante post no Abrupto sobre Salónica e sobre os fantasmas de uma cidade que, durante séculos, serviu de refúgio e morada a uma florescente comunidade de judeus portugueses e espanhóis que acabaria por ser aniquilada quase na totalidade pelos nazis entre 1941 e 1944. Hoje, dos sefarditas de Salónica pouco ou nada resta. Aconselho vivamente a leitura do texto de José Pacheco Pereira: Nunca é tarde para aprender: “Las mocicas de agora / todas vistem de tango”.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Arte de Filosofar por Álvaro Ribeiro


Arte de Filosofar

"A arte de filosofar não consiste em escrever livros, em proferir conferências, em minutar lições que, ostensivamente, efectuem transmissão de ensino público. Todas as manifestações da filosofia, que os bibliógrafos registam e os biógrafos explicam, combinando a bibliografia com a biografia, resultam de uma actividade inaudível e invisível a que se dá o nome secreto de pensamento. Maior é o número dos filósofos que cogitam, meditam e especulam, sem que os seus contemporâneos sequer suspeitem, do que o número daqueles que pretendem tornar-se célebres com exibir erudição aprendida em arquivos, bibliotecas ou museus.Cumprindo os ritos religiosos, políticos e morais que são a praxe no círculo social em que preferiu viver e conviver, o pensador sincero fica mais livre para na solidão reflectir sobre os problemas humanos, os segredos naturais e os mistérios divinos. A cada alma esclarecida no cultivo da ciência e inflamada pelo amor da verdade obsidia sempre um só problema, segredo ou mistério, a que atribui primado na ordenação de todas as interrogações que estimulam o pensamento até à hora da iluminação suprema"

- Álvaro Ribeiro, A Arte de Filosofar, Lisboa, Portugália, 1955, p.9.
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Etiquetas: Filosofia Portuguesa, Álvaro Ribeiro
3 comentários:
Cid disse...
Mais outro grande desconhecido dos portugueses... Grato por recordá-lo.

2 de Maio de 2009 13:43
Pedro Nuno disse...
Álvaro Ribeiro foi daqueles poucos que não esqueceu que o fim último de toda a actividade do espírito é a "iluminação suprema".


2 de Maio de 2009 21:57
Anónimo disse...
Ou a arte de cavalgar... de bem cavalgar em toda a sela?...

A chama coroada, de António Barahona