quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Grandeza do Homem                                                         

Somos a grande ilha do silêncio de deus
Chovam as estações soprem os ventos
jamais hão-de passar das margens
Caia mesmo uma bota cardada
no grande reduto de deus e não conseguirá                                   
desvanecer a primitiva pegada
É esta a grande humildade a pequena
e pobre grandeza do homem

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"



Giotto, Juízo Universal - fresco 1000x840, capella Arena, Pádua

sábado, 17 de novembro de 2012

Raiz judaica do Cantar Alentejano…



Sempre ouvi dizer que as raízes dos cantares tradicionais alentejanos eram árabes, e que remontavam aos séculos de domínio muçulmano do Sul de Portugal mas, confesso, e apesar de conhecer bastante música árabe, nunca encontrara entre elas qualquer analogia. Inclusive, alguma tentativas de aproximação entre as duas empreendidas por músicos contemporâneos, apesar de agradáveis, tinham sempre um sabor a casamento forçado.
Curiosamente, foi nas sinagogas sefarditas que encontrei melodias que me faziam de imediato lembrar as “modas” alentejanas das terras dos meus país.
As semelhanças encontram-se no todo, mas elas notam-se principalmente em pontos de contacto muito específico – o maior dos quais a sua forma “responsiva”, pois tanto na oração judaica como no cantar tradicional alentejano há um “líder” e um coro que responde. Mas é a forma como essa relação, esse diálogo melódico, se desenrola que parece deixar pouca margem para dúvidas acerca da evidente afinidade.
::PARA OUVIR::

Kedushah, gravada na Sinagoga Portuguesa e Espanhola de Londres, nos finais dos anos 50 e editada em 1960 pela Folkways Records, de Nova Iorque.

Meu Alentejo Querido, pelo Grupo Coral e Etnográfico “Os Ceifeiros de Pias”, editado em 2001 no CD Vozes do Sul.


Madrugada,
banda norueguesa já extinta,

Honey Bee

sexta-feira, 16 de novembro de 2012




"A caridade é o poder de defender aquilo que sabemos indefensável. A esperança é o poder de estar bem disposto em circunstâncias que sabemos desesperadoras. A virtude da esperança existe apenas nos terremotos e nos eclipses. [...] É exatamente no instante em que a esperança deixa de ser razoável é que começa a ser útil. [...] A virtude da humildade, embora seja prática a ponto de vencer batalhas, será sempre paradoxal o bastante para confundir os pedantes."

(G. K. Chesterton - Hereges - Cap. XIII )



                                     
                                        

Pascal

http://lecimetieredamboise.hautetfort.com/archive/2012/11/15/actualites-de-port-royal-la-nuit-de-feu-de-blaise-pascal.html

125 Anos de nascimento de Amadeu


                                                            Amadeu de Souza-Cardoso
                                                                   (125 anos do seu
                                                                         nascimento)

                                                                 
                                                            Amadeu de Souza-Cardoso
                                                      
                                                                 (título desconhecido)
     

Sophia - poema



                                                       Apesar das ruínas e da morte,
                                                       Onde sempre acabou cada ilusão,
                                                       A força dos meus sonhos é tão forte,
                                                       Que de tudo renasce a exaltação
                                                       E nunca as minhas mãos ficam vazias.

                          

                                                                                           Sophia de Mello Breyner
       
 
 Rua Nova dos Mercadores, Lisboa,
pintor anónimo flamengo ou português
 
 (1570-1580)
 
 

Música de Dimitri Cantemiroglu


                                                                     Música Otomana

terça-feira, 30 de outubro de 2012



...Armand Amar...


Duduk - um instrumento da Arménia


Magnífico!!!
http://www.slideshare.net/mfelizardo/quinta-da-regaleira-em-sintra-1441080
Capela Sistina - Miguel ângelo
Uma viagem

http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html 
   Outer Space from Sander van den Berg on Vimeo.
Beda, o Venerável

http://issuu.com/g.l.e./docs/monografico_beda_rd3/29

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Moreia+de+Rei+(43).JPG (image)

Moreira de Rei

Antiquíssima vila e cabeça de um importante concelho, o seu nome lembra a todos os vindouros que Moreira acolheu o rei D. Sancho II quando ia a caminho do exílio de Toledo. Em Moreira de Rei decorreram as negociações nesse sentido, além da retirada do exército estrangeiro, estando presentes, para além de D. Sancho, o infante de Castela, o Conde Lopes de Haro, fidalgos castelhanos...
, leoneses e outros nobres de Portugal que haviam seguido o monarca deposto, de entre os quais o valido e principal causador da desgraça, D. Martim Gil.
Mais do que por esta hospedagem passageira, o povoado é memorável pelas sepulturas escavadas no granito. Era uma imensa necrópole proto-cristã, pois que tais sepulturas são de comum consideradas como dos primeiros tempos do cristianismo peninsular, o que representa muito na determinação da época em que, seguramente, se pode dizer habitado o território da freguesia. A maioria destas sepulturas situa-se nos terrenos que rodeiam a velha igreja de Santa Maria, edifício românico em granito datado do século XII e coroado de merlões. Na porta principal estão gravadas medidas-padrão medievais (côvado, braça, pé).
Alexandre Herculano considerou Moreira uma “espécie de ninho de águias sobre um montão de rochas”, e coroado por elas “o castelo e a cerca exterior meio destruídos, e ultimamente, por um indivíduo de fora que escavou e revolveu toda a entrada do castelo em busca de tesouros”.
São emocionantes as ruínas da antiga fortaleza. O castelo diz-se do tempo dos lusitanos ou da presença romana. Curiosamente alcantilado em enorme formação de mamelões de granito, debruça-se sobre linda vista e embora arruinado, ainda dispõe de alguns panos de muralha e da pitoresca Cadeira d’El-Rei, cavado na rocha, que nos consegue trazer imagens rememorativas do seu passado.
Por Moreira de Rei passava a estrada militar romana, sendo ainda visíveis alguns troços de calçada. Os lugares de Golfar e Esporões foram “villas” de possessores visigóticos, e godos eram também os esposos Rodrigo e Leodegundes a quem a “Moraria” do século X pertencia. E é a sua filha Flâmula quem, em 960, doa o castelo ao Mosteiro de Guimarães, de sua tia Mumadona. Em 1055, Fernando de Leão conquista o castelo aos mouros.
Moreira de Rei teve foral dado pelo primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques, em data desconhecida, confirmado por D. Afonso II em 1217 e foral novo em 1512 com D. Manuel I. As Inquirições de D. Dinis revelaram que no tempo de D. Sancho II, o opulento fidalgo desta região, Fernão de Soveral, aqui fizera uma honra de trinta casais; e havia mais vinte honrados, tendo sido tudo devassado por ordem real. No arrolamento de 1321 citam-se cinco igrejas do concelho de Moreira, sendo a mais importante a de Santa Marinha. O concelho tinha câmara, tribunal e o símbolo da autonomia municipal, o pelourinho de estilo manuelino, assenta em cinco degraus octogonais e a coluna assenta no último. O capitel tem moldura oitavada, encimado pela gaiola com oito esbeltos colunelos. No remate possui a esfera armilar com restos da grimpa.
O concelho de Moreira de Rei, extinto em 1855, abrangia o território das freguesias de Vila de Moreira e das actuais de Cótimos, Valdujo, Terrenho, Torre de Terrenho e Castanheira. Hoje, em superfície, a freguesia de Moreira de Rei é a maior do concelho de Trancoso.

 Localização: Moreira de Rei fica a 9 km da sede do Concelho na E.M. 600
Área: 34,40 km²
População: 673 habitantes
Anexas: A do Cavalo, Casas, Esporões, Golfar, Moinhos das Cebolas, Moreirinhas, Pisão, Valcovo e Zabro
Património: Igreja Matriz, Igreja de Santa Marinha, pelourinho, ruínas do castelo, sepulturas, necrópoles, lagares, cruzeiros e alminhas
Outros Locais: Potro (fraga do feitio de um cavalo), albarda, ródoas e varandão (imagens naturais em pedra) e miradouro do castelo

Castelo de Moreira de Rei

 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

 
Labrys minoico de oro - Museo Arqueológico de Heraklion

  La palabra laberinto procede del griego labýrinthos y todos tenemos uno en cada uno de nuestros oídos, son los únicos laberintos naturales (y los hay en la mayoría de las especies zoológicas. Los demás laberintos, de acuerdo con el DRAE, son artificiales. Hay varias especulaciones sobre el significado original de esta palabra, pues por infl...
ujo latino es fácil suponer que sus componentes son labyr = alguna variación de labor, laboris (dando la idea de artificial), e intu= interno; es decir que se trataría de un trabajo hecho en el interior de algo (posiblemente alguna caverna, como la del Minotauro - sólo que el minotauro es helénico, no latino).  Otros suponen que podría derivarse de lábyros = cavidad y la desinencia intos = dando a entender que es algo hacia adentro de donde no se puede salir.
 En realidad la palabra griega labyrinthos es de etimología poco segura, aunque la mayoría están de acuerdo en que se trata de un préstamo lidio o cario, es decir, minorasiático. Desde luego la etimología latina es un despropósito, y el préstamo del egipcio muy inseguro, pues se trata del nombre supuesto de un templo “no al lado del mar” sino “templo a la orilla del lago” y se refiere a la construcción de Birkat Qarun junto al lago Moeris, pero el problema es que es dudoso que ese templo realmente se llamara así.
 La palabra laberinto aparece ya en griego micénico con la forma da-bu-rin-tho-yo (vieja alternancia indoeuropea d/l), lo que dificulta cualquier préstamo egipcio, y aparece así en genitivo en la expresión daburinthoyo potnia (po-ti-ni-ya), es decir la señora del laberinto referido a la diosa madre de carácter lunar que recibía culto en Creta y seguramente al laberinto del palacio de Cnossos, diosa y laberinto heredados por los micénicos y construido éste por la civilización minoica aproximadamente entre 2000 y 1.700 a.C. Pero la señora del laberinto es también la señora de la labrys (con formas arcaicas, dabrys), el símbolo religioso más importante, no sólo en Creta sino en una incontable cantidad de santuarios de Asia Menor.
 Labrys es una palabra de origen cario, quizá lidio (posiblemente existente en ambas lenguas, Plutarco atestigua su procedencia lidia). La labrys es un hacha sacrificial de doble hoja con un mango que casi con seguridad simbolizó el ciclo de la vida y de la muerte, y las fases de la luna (cada hoja el creciente o el menguante, y el círculo en que se puede inscribir la doble hoja, la luna llena. Siempre aparece asociado a diosas madres de carácter lunar, aunque tardíamente se asocia en Asia Menor a Zeus como símbolo de poder, y por eso algunos han especulado con una asociación tardía al rayo. La labrys es muy sagrada, se guarda en los templos, es de uso exclusivo en los sacrificios y es quizá el símbolo más repetido en Creta, y también parece simbolizar al santuario o al palacio, presididos por el poder de la diosa.
  Para muchos, la palabra labyrinthus es un derivado de la palabra labrys, y algunos han especulado con la posibilidad de que laberinto significara; la casa de la labrys; Además los laberintos cretenses, representados como símbolo en roca y en monedas, son circulares, con un pasillo de entrada en el eje central que recuerda al mango de una labrys, y el propio laberinto al círculo en que se inscribe la doble hoja del hacha. En cualquier caso el origen habría que buscarlo en Asia Menor, lo cual es muy ajustado al hecho de que las primeras poblaciones de Creta en el tardoneolítico son oleadas migratorias procedentes de Asia Menor, y sus vínculos culturales y tecnológicos con estas tierras en sus primeras etapas culturales son un hecho arqueológicamente bien probado.
 
 
 
 
Ias na proa da barca, singela.
Teu olhar vogava à flor das águas
e tua mão tocava-as, distraída.

Eu era teu barqueiro.
Fazia deslizar os remos, silencioso.

Mas já atearas em meu corpo
o rastilho do amor. E como a mariposa,
era atraído à tua chama intensa.
Só me falta arder no teu incêndio.


Avelino de Sousa, Poemas

Aldo Riboldi - poema

Suspensos entre a terra e o céu,
num abraço infinito.
Em um ponto central,
onde os nossos corpos,
se movem lentamente em uníssono.
as nossas almas fundem-se
os nossos corações tornam-se um
cercado por pétalas de rosa
permeadas por uma brisa celeste,
onde a paixão impaciente
é posta de lado.
Substituída por um estado
paradisíaco de amor total.
O tempo esvai-se
e nós dois tornamo-nos um
suspensos docemente

Original em Italiano de Aldo Riboldi

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Figura de Templário na Sé de Braga

SICÓ - Património Histórico - Arqueológico - Ajimez de iconografia visigótica na torre SW do Castelo de Soure - Vale a pena visitar !

FONTE E BANHOS DE ST EUFÉMIA | SINTRA
A foto do lado direito superior é de 2010. As outras são de Jan. 2012, após uma pequena limpeza do local por nós. (imagem do cap VII)


 http://sintra-subterranea.blogspot.pt/2012/01/da-fonte-e-dos-banhos-de-santa-eufemia.html

(fotos de 2010-2012)

POMBAL ROMANO (?) | BOLELAS - SINTRA - Já foi destruído. Assim vai o nosso património, muitas vezes desconhecido, ou mal estudado. A incúria, o descaso, a ignorância e a apatia das autoridades competentes (quando não o conluio), contribuem para a delapidação dos valores edificados e também da paisagem portuguesa.

domingo, 15 de julho de 2012


Um poema de Giordano Bruno dos "Furores Heróicos"

« BENCH'Á TANTI MARTIR...»

Bem que a martírios tu me tens sujeito
... devo-te muito e te sou grato, Amor:
com nobre chaga me rasgaste o peito
e o coração me deste a um tal senhor,

de tão excelso e de tão vivo aspeito,
na terra imagem do divino autor,
Pense quem quer que é ímpio o meu destino,
se morro esp'rança e vivo desatino.

Contenta-me alta empresa;
e quando o fim clamado me escapara,
e em tanto arder minh´alma se gastara,

basta que seja nobremente acesa,
e que eu mais alto ascenda
e do número ignóbil me defenda.

Fica aqui a referência ao livro de Frances A. Yates, Giordano Bruno e a Tradição Hermética (trad. brasileira de Yolanda Toledo), ed. Cultrix, São Paulo e que pode ser encontrada aqui:
http://pt.scribd.com/doc/89398950/13/Giordano-Bruno-e-a-cabala#outer_page_6

Eis o portal dedicado a Giordano Bruno   (em italiano):
http://giordanobruno.filosofia.sns.it/index.php?id=716

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Благодать.mpg - maravilhosa simplicidade\

Nota sobre o poeta Sebastião Penedo e 2 poemas

Sebastião Penedo (Alvito,1945 - Lisboa, 2002)

Apareceu morto nas águas o Tejo, há cerca de dez anos. Ninguém sabe se foi suicídio, se foi descuido. Parece o mesmo, bem vistas as coisas. Tinha um problema com o alcoól, com a solidão, com a vida. Nos últimos tempos parecia ter perdido o sentido de tudo. O funeral foi em Alvito, a aldeia manuelina onde nasceu em Novembro de 1945. Disseram-me que vei...o muita gente de Lisboa, amigos das letras, que não esquecem a simplicidade de um homem que não pediu nada e não esperava nada. E que, como se viu, não teve nada. Sobraram pelo menos quatro livros de versos [talvez mais, mas não encontro rasto deles], algumas dezenas de poemas de uma simplicidade por vezes arrebatadora, de um lirismo eólico.

Apenas lhe conheço quatro livrinhos de versos:
Livro de Versos [1969]
Claridade [1973]
Meu Silêncio Amigo [1977]
Sumo Natural [1979]
(Não se sabe se há mais obras publicadas ou a publicar, até ao momento)
Colaboração: NOVA 2 [Outomo, 1976]

MOVIMENTO SIMPLES
Não nos ficam mal estes sentimentos
de simplificar as coisas mais difíceis
descansar um pouco quando nos cansamos
ou mudar a roupa se os ombros pesam

Não nos fica mal uma brincadeira
o inteligente regresso à infância
correr e ladrar com o nosso cão
confiar nos ares dentro da cabeça.

Inventar os outros leves mais felizes
livres e serenos mesmo ao pé da gente
não nos ficam mal estes sentimentos
um pouco de humor - o amor contente.

***

RECOLHIMENTO
A água corria do poço
para os gamelões frescos.

Folha dormideira,
imitava os açudes,
o sossego murmurado da ribeira.

O pastor assobiava,
em cuidado, em sintonia
com os pássaros ajudas.

Embebidos, os animais bebiam.

domingo, 10 de junho de 2012

                    Medjugorje - Milagre do Sol - maio de 2010 (1)


Camões «O dia em que nasci moura e pereça»

10 de Junho - dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao mundo, e se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.


A luz lhe falte, o Sol se lhe escureça,
Mostre o mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.


As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu!


Ó gente temerosa não te espantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!

                                                                 LUÍS DE CAMÕES
                               
                         

Tindersticks, A marriage made in heaven


                           Tindersticks  http://www.youtube.com/watch?v=XMhQIYlFxlM&feature=colike

terça-feira, 5 de junho de 2012

Cesare Pavese "Verrà la morte"


Virá a morte e terá os teus olhos
Virá a morte e terá os teus olhos
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito emudecido, um silêncio.
Assim os vejo todas as manhãs
quando sobre ti te inclinas
ao espelho. Ó cara esperança,
nesse dia saberemos também nós,
que és a vida e és o nada.
Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
re-emergir um rosto morto,
como ouvir lábios cerrados.
Desceremos ao vórtice mudo.
 
   trad. de Jorge de Sena
 
 
 

Xancra (Cuba)

Uma descoberta arqueológica em Xancra, Cuba, Baixo Alentejo

Pirâmides da Bósnia

Pirâmides da Bósnia (site oficial)

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sexta-feira, 11 de maio de 2012

                                                      george scholz «cacti and semaphore»

Miguel de Castro - Poeta do corpo, do sexo e das mulheres



“Escrevo à base de emoção”, confessa Miguel de Castro, o poeta que este sábado (6 de Abril) lança o livro “Os Sonetos”, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (17.30). O autor fixa textos que reflectem “experiências”, de toda uma vida de enamoramento e paixões.

“Sou muito ligado à mulher, ao feminino, às coisas do amor e do sexo” , vai contando Miguel de Castro, enquanto despeja açúcar na chávena de café fumegante. A mulher, corrijo, as “mulheres” têm sido a cafeína de uma escrita torrente, desenfreada, por vezes, avassaladora. “Despertei para a poesia com as mulheres”, diz o autor, que encontrou nas "Folhas Caídas" de Almeida Garret o motor de arranque para as conquistas amorosas e abundante produção literária.
“Cada rapariga que namorava fazia-lhe um poema” , conta, enquanto vai dissolvendo o açúcar na negra beberagem. É o lado carnal que leva Miguel de Castro a passar para o papel as palavras e as frases que vai construindo “de cabeça”. “Os Sonetos”, obra apresentada por Viriato Soromenho Marques e António Cabrita, mantém-se fiel a um longo percurso do “poeta pagão”, ou “poeta do corpo” como gosta de se definir.
Miguel de Castro cedo se deu conta que a inspiração o surpreendia nos momentos mais variados. “Um olhar, um cheiro, um paladar, qualquer coisa pode desencadear um processo criativo”, relata o autor. Sempre teve a “mania de ler”, talvez por isso, o pai nunca se esquecesse de lhe trazer um “mimo” quando se ausentava em viagem pelo país. Trazia-lhe sempre um “livro de contos, uma novela”, que devorava com uma tremenda satisfação.
Aos poucos começou a dar-se conta de que as palavras, as frases se juntavam na “cabeça” com uma facilidade e uma desenvoltura inquietantes. Já adolescente, Miguel Castro deita o “desassossego” no papel e, por intermédio de um amigo, é apresentado a Sebastião da Gama. Já antes, os colegas de trabalho da EDP lhe reconheciam o “jeito” para a escrita e demonstravam espanto pela quantidade de poesias que escrevia em papéis avulso. Foi por isso que ficou também apelidado de “poeta das dúzias”.
Era, na altura, uma “coisa tosca”, um “campo a desbravar”, recorda.
Confrontado com os versos do poeta auto-didacta, Sebastião da Gama de imediato atestou a qualidade da escrita – “Ele gostou muito dos meus versos”, lembra. A partir daí, o poeta da Arrábida que identificara uma “sensibilidade poética” em Miguel de Castro, tornou-se um “guia de interesses” e foi “abrindo portas”. Tornou-se um ritual diário a entrega de “um monte de poemas” para que Sebastião da Gama orientasse a escrita “torrencial”.
Em determinado dia havia de passar pela cabeça do autor arranjar um pseudónimo para dar cara à poesia. Jasmim Rodrigues da Silva não lhe parecia “nome de guerra”, daí que tenha sugerido a Sebastião da Gama um nome invulgar - Jarosil Claus. O autor explica: “Já retirado a Jasmin, Ro de Rodrigues e Sil emprestado a Silva”. Então como surge o apelido Claus? O autor justifica-se dizendo que se tratava do nome de um “sabonete que havia no Porto”. A proposta não passou no crivo de Sebastião da Gama que logo lhe disse “o homem passou-se da cabeça”. O mesmo Sebastião ditou que “Jarosil jamais, serás Miguel de Castro”. E assim ficou!
Agora que do café sobra um contorno vago no bordo da chávena, e cristais de açúcar lá no fundo, Miguel de Castro reconhece que tudo começou como uma “brincadeira” mas havia de se consolidar. Na essência, continua a ser o mesmo “lamechas”, “pinga-amor”, “lacrimejante”, como todos os poetas. Falta acrescentar, “namoradeiro” das palavras e dos afectos que continua a prender em forma de verso ou de sonata – “Tenho-os todos na cabeça”, diz.
Todos, não acredito, disse de imediato, em tom de provocação. Miguel de Castro afasta o boné, alisa o cabelo grisalho e destapa a memória – “Este escrevi tinha 19 anos: Hoje é sábado / Tenho dinheiro, cigarros e alegria / Tenho sonhos orgíacos e delírios! / Não há ninguém mais feliz do que eu / Tenho vinho, música, mulheres, / Céus, astros e luas. / Hoje vou deambular pelas ruas, / Cantar serenatas, / Arriscar a vida por nada / Morrer, sem glória, em qualquer luta! / Ou, então, quando vier a madrugada, / Dar o braço a uma prostituta, / E bêbado, / Aos tombos, / A granel, / Dormir um sono profundo, / No bordel”.
Livros editados
Fruto Verde, 1950
Mansarda, 1953
Terral, 1990
A Sinfonia do Cú, 1990
Os Sonetos, 2002
Ricardo Nunes - 05-04-2002http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=3119

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Iniciação

Fernando Pessoa      

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
... E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte.
The Tiger - de William Blake

Tiger, tiger, burning bright,
In the forest of the night,
What immortal hand or eye
... Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?
And what shoulder, and what art,
Could twist the sinews of thy heart?
When thy heart began to beat,
What dread hand forged thy dread feet?
What the hammer? What the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dared its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears
And watered heaven with their tears,
Did He smile his work to see?
Did He who made the lamb make thee?
Tiger, tiger, burning bright,
In the forest of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

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"O tigre"
(Tradução de Adriano Nunes)

Tigre! Tigre! Grã clarão
Nas selvas da escuridão,
Qu' olho ou mão imortal v'ria
Criar tua horrível simetria?

Em quais abismos ou céus
Queima o fogo d'olhos teus?
Com que asas ousou se alçar?
Que mão tal fogo ousou pegar?

E qual ombro, & quais artes
Torceram do teu peito as partes?
E ao bater do coração,
Que terríveis pé ou mão?

Que martelo? Que corrente?
Que forno fez tua mente?
Que bigorna? Impulso qual
Forjou teu horror letal?

Quand' astros lançam raios seus,
Cobrindo de pranto os céus,
Sorriu por tal obra ver?
Quem te fez, a ovelha fez viver?

Tigre! Tigre! Grã clarão
Nas selvas da escuridão,
Qu' olho ou mão imortal v'ria
Criar tua horrível simetria?

Life on mars? Mars Rover Opportunity finds some of the necessary conditions once existed

Life on mars? Mars Rover Opportunity finds some of the necessary conditions once existed

quinta-feira, 5 de abril de 2012

ÉSQUILO "Oresteia" a morte de Ifigénia

Agamémnon: a morte de Ifigénia

A Oresteia, trilogia da qual o Agamémnon é a primeira tragédia, foi pela primeira vez representada em 458 a.C., no festival das Dionísias Urbanas, e ganhou o primeiro prémio.
Cena: Diante do palácio de Argos. A guerra longínqua dura há dez anos. O Coro, um grupo de anciãos, entra em cena. Caminham lentamente, apoiados em bastões. Apreensivos com o exército e o seu rei, Agamémnon, cantam sobre o sucedido à partida no mais longo trecho lírico, e um dos mais belos, de toda a tragédia clássica.
O exército grego reuniu-se em Áulis. Aguardam ventos favoráveis para poderem partir para Tróia. O tempo passa, devorando as provisões, trazendo o ócio, instigando ao motim. Uma estranha visão surge então aos reis: duas águias descem do céu diante deles e devoram uma lebre com a sua ninhada no ventre. O adivinho do exército interpreta a visão como um prodígio enviado pela deusa Ártemis. Isto é o que se segue (vv. 184-249):

Coro
ant. 3
E então o mais velho dos comandantes[1]
.....das naus dos Aqueus,
não recriminando adivinho algum,
conspirou com a sorte que o feria,
enquanto a demora devorava as provisões
.....e oprimia a multidão aqueia,
acampada defronte de Cálcis[2],
nas costas de Áulis, onde a rebentação ruge continuamente;

estr. 4
os ventos que do Estrímon[3] sopravam
um tédio nefasto, a fome, a má ancoragem,
o desvario dos homens, não poupando naus nem amarras,
tornavam a espera duplamente longa,
com o desgaste consumindo
.....a flor dos Argivos; e quando um outro
remédio mais pesado
do que a amarga tempestade o adivinho proferiu
aos primeiros do exército
.....declarando Ártemis responsável, então, batendo com os ceptros
.....no solo, os Atridas
.....não contiveram as lágrimas,

ant. 4
e o mais velho dos chefes ergueu a voz para falar:
«Sorte pesada é não obedecer,
pesada também se esquartejar a minha filha, jóia do meu lar,
manchando as mãos paternas
na corrente do sangue de uma donzela imolada
.....junto ao altar. Qual destas está isenta de mal?
Como me hei-de eu tornar um desertor das naus
falhando para com a aliança?
Pois o sacrifício
.....que acalme os ventos à custa do sangue de uma virgem desejam
.....com desejo extremo, mas proíbe-o
.....a Justiça. Oxalá tudo corra pelo melhor!»

estr. 5
Mas quando a si ajustou o jugo da necessidade,
do espírito soprando um vento de mudança ímpio,
impuro, sacrílego, então
mudou o curso do pensamento para a maior das audácias –
pois torna audazes os mortais a de vergonhosos conselhos,
a miserável demência, princípio da desgraça. E assim ousou
tornar-se o sacrificador
.....da filha como auxílio
.....a uma guerra vingadora de uma mulher
e sacrifício preliminar à partida das naus.

ant. 5
Das súplicas e apelos ao pai
não fizeram caso, nem da virginal idade,
os juízes enamorados pela guerra.
Aos servos o pai, depois da prece, ordenou
que, como uma cabra, sobre o altar
– à que em torno das suas vestes com todo o coração se lançava – inclinada para a frente
a erguessem
.....e que a bela proa da boca
.....selassem como vigia
contra alguma palavra de maldição para a casa

estr. 6
por meio da força de um freio e da violência emudecedora.
Quando já o seu vestido tingido de açafrão pendia para o solo,
de seus olhos lançava ainda a cada um dos sacrificadores um dardo
piedoso, destacando-se como numa pintura, desejando
chamá-los pelo nome, pois outrora muitas vezes
nos hospitaleiros banquetes de seu pai
havia para eles cantado, a virgem que com voz pura a libação
.....terceira[4] do pai
.....amado com um péan[5] amoravelmente honrava.

ant. 6
O que se seguiu não vi nem o vou contar,
mas as artes de Calcas não ficam por cumprir.

 
Notas:
[1] Agamémnon.
[2] A expedição grega reuniu-se em Áulis, na costa da Beócia. Diante de Áulis, do outro lado do Euripo, ficava a cidade de Cálcis.
[3] Rio da Trácia.
[4] A terceira libação dos banquetes era em honra de Zeus Sôtêr (Salvador), tratava-se de um ritual com o fim de afastar os males e atrair prosperidade.
 
 
 
[5] Em geral, o péan era um hino em louvor de um deus olímpico (normalmente Apolo).

PEDRA - Charles Simic

Charles Simic
                                                         Michiel Sweerts, Rapaz de Turbante

PEDRA
Entrar dentro de uma pedra
Seria esse o meu caminho.
Deixar outrem tornar-se pombo
Ou rilhar com dentes de tigre.
Sou feliz por ser uma pedra.

Por fora, a pedra é um enigma:
Ninguém sabe como o desvendar.
Dentro, porém, deve ser fresca e silenciosa
Mesmo que uma vaca a calque com todo o seu volume,
Mesmo que uma criança a atire para um rio;
A pedra afunda-se, lenta, imperturbavelmente
Até ao fundo do leito
Onde os peixes vêm bater na pedra
E escutar.

Eu vi as faíscas voando
Quando duas pedras são friccionadas,
Talvez então não seja escuro, apesar de tudo, lá dentro;
Talvez exista uma lua brilhando
Desde algures, como se por trás de uma colina –
Apenas a luz suficiente para distinguir
Os estranhos escritos, as cartas astrais
Nas paredes de dentro.

(1971)

quinta-feira, 15 de março de 2012

pequena biografia + poema de Carlos Queirós



                                                             Carlos Queirós


Nasceu em 1907, em Paris.

Poeta, ensaísta, crítico literário e de arte, estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se funcionário da Emissora Nacional, onde organizou programas culturais. Assíduo colaborador da Presença e de outras publicações literárias, foi considerado um elo de ligação entre a geração presencista e a de Orpheu.

Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo.
Morreu em 1949, em Paris.
Algumas obras:

Poesia


Desaparecido (1935)

Breve Tratado da Não-Versificação (1948)

Desaparecido e outros Poemas (1957)

ProsaHomenagem a Fernando Pessoa (1936)



APELO À POESIA

Porque vieste? - Não chamei por ti!
Era tão natural o que eu pensava,
(Nem triste, nem alegre, de maneira
Que pudesse sentir a tua falta...)
E tu vieste,
Como se fosses necessária!

Poesia! nunca mais venhas assim:
Pé ante pé, cobardemente oculta
Nas ideias mais simples,
Nos mais ingénuos sentimentos:
Um sorriso, um olhar, uma lembrança...
– Não sejas como o Amor!

É verdade que vens, como se fosses
uma parte de mim que vive longe,
Presa ao meu coração
Por um elo invisível;
Mas não regresses mais sem que eu te chame,
– Não sejas como a Saudade!

De súbito, arrebatas-me, através
De zonas espectrais, de ignotos climas;
E, quando desço à vida, já não sei
Onde era o meu lugar...
Poesia! nunca mais venhas assim
– Não sejas como a Loucura!

Embora a dor me fira, de tal modo
Que só as tuas mãos saibam curar-me,
Ou ninguém, se não tu, possa entender
O meu contentamento...
Não venhas nunca mais sem que eu te chame,
– Não sejas como a Morte!







Óssip Mandelstam - Epigrama de Stalin

Este poema anti-stalinista levou à prisão do autor em 1934.

Mandelstam Stalin Epigram-c.jpg

Nós vivemos, mas não sentimos a terra com os pés
Dez passos andando e não podemos ouvir,

E quando há dois suficientes para metade de um diálogo
Eles se lembram do alpinista do Kremlin.

Seus dedos gordos são escorregadios como lesmas,
E suas palavras são absolutos, como medidas de merceiros.

Suas antenas de barata estão rindo,
E sua bota nova brilha.

E ao redor dele a turba de chefes de pescoço curto -
Ele brinca com os serviços de meio-homem.

Quem gorjeia, mia ou geme,
Ele sozinho empurra e pica.

Ele esmaga-os como ferraduras, com decreto após decreto
Na virilha, na testa, no rosto, ou no olho.

Quando há uma execução, há tratamento especial,
E o peito ossétio se infla.

Novembro de 1933

Silvae de João Queiroz e frase de Valéry Larbaud



"A arte é ainda a única forma suportável da vida; é o maior prazer, e o que se esgota menos depressa."
Valéry Larbaud

sexta-feira, 2 de março de 2012

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

in: http://www.orgialiteraria.org/2011/04/o-pajem-formidavel-dos-indicios-alberto_19.html
 
Quem é Alberto de Lacerda?

Por vezes devíamos falar dos poetas num eterno presente. Não por motivos de canhestra apresentação ocular, ou sequer por uma redutora explanação para informação dos aflitos, mas porque há sensibilidades e vozes que exigem a própria existência para lá das dificuldades lineares do Tempo.

Perguntarmos, nesta altura de crise geral, sobre a essência de um poeta maior, levar-nos-á a descobrir o que por aí sobra dos seus versos e depois ao salto inevitável até à plataforma segura mas desconhecida da sua singular obra. Não nos deteremos aqui no insípido tratamento em vida do autor, nem no igualmente tasteless tratamento da sua memória que muitos lhe conferiram. Basta dizer que a nossa intenção é puramente prática: neste momento Alberto de Lacerda é um livro. Porque, embora vários e importantes constem na sua bibliografia e outros se desenhem sobre o horizonte crescente, o certo é que o poeta vive hoje somente em dois livros, um deles uma importante evocação do escritor, por Luís Amorim de Sousa, em tudo relevante para o tema em apreço. Contudo, tentemos descobrir quem é agora Alberto de Lacerda a partir do outro livro publicado o ano passado, um volume de poesia original, intitulado O Pajem Formidável dos Indícios (Assírio & Alvim, 2010).

Esta edição de um primeiro volume do que se anuncia como uma das mais vibrantes colectâneas de originais post mortem das últimas décadas da poesia portuguesa é obra de um poeta em sentido lato, algo que irá das suas vivências entre Boston e Londres, dos caminhos felizes que esta escrita fisicamente percorreu Londres-Lisboa aos que temporalmente viveram entre os idos 1995 e 1997 até aos leitores de hoje.
São poemas que não escondem nada mas apontam muito, no sentido mais zen que se possa pensar quanto ao gesto. A partir das palavras e versos que os compõem, chega-se a um lugar novo se olharmos com os cegos olhos de dentro.

Põe-se a pergunta de se a "secura substantiva" de Alberto de Lacerda em O Pajem… será decorrente da sua condição de exilado (geográfico, político, social, económico, sexual, etc.), da paixão sempre confessada e exercida pela pintura, da longa vivência entre anglófonos ou, no caso deste livro em concreto, de uma plácida aceitação da velhice. E a resposta dá-se em parte lendo toda a obra, para a qual alegremente vai quem ler esta obra póstuma, o que me parece ser a mais nobre virtude de um tomo e de um problema deste tipo. Há algo de pungente em observar a vida de um livro após a morte de um autor. O branco da capa desta edição da Assírio & Alvim toma assim um sabor oriental, a que até o pormenor do título a vermelho confere sensação. Indícios.

Alberto de Lacerda deixou-nos razoavelmente preparados para publicação alguns livros de poesia, de entre os quais este Pajem... é o primeiro a ser dado à estampa, bem como imensos dispersos (reputadamente mais mil poemas inéditos). Sentimo-nos algo descansados pelo facto de o espólio estar entregue a uma instituição de eleição, a Fundação Mário Soares, e pelo seu amigo Luís Amorim de Sousa a quem poderemos continuar a agradecer a organização de tão importante obra.

por n. fonseca
O Pajem Formidável dos Indícios
Alberto de Lacerda
Assírio & Alvim
2010

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Joana d'Arc faz 600 anos (1412-2012)


A guerreira que era orientada por vozes de santos, foi uma das mulheres mais fortes que o mundo já conheceu. Nasceu em 1412, na França. Ao completar 13 anos passou a ouvir vozes de santos. Com os conselhos das vozes santas decidiu que iria coroar o Rei. Em julho de 1429, Carlos recebeu a coroa de rei na Catedral de Notre-Dame de Reims. Com isso, Joana havia atingido seu objectivo maior, só que sua ambição militar falou mais alto. Partiu para Paris a fim de expulsar os ingleses, foi derrotada, seus soldados partiram em retirada, mas seu espírito guerreiro resistiu. Joana foi capturada, tentou escapar de ambas as prisões, mas não obteve êxito. Em 1430, foi levada a julgamento no tribunal inglês, sendo este conduzido pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. Todas as acusações eram de ordem religiosa: bruxa, herege, idólatra, entre outras. O Martírio durou seis meses e sua sentença foi ser queimada viva.
Cumpriu-se então a sentença, Joana foi queimada viva em uma fogueira aos 19 anos de idade.
Foi canonizada no ano de 1920.
É um exemplo para todos, de coragem, determinação, inspiração divina, santidade e heroísmo. O nome desta rapariguinha que morreu aos 19 anos, perdurará para sempre.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012


SONNET #3


by: William Shakespeare



LOOK in thy glass, and tell the face thou viewest
Now is the time that face should form another,
... Whose fresh repair if now thou not renewest,
... Thou dost beguile the world, unbless some mother.
For where is she so fair whose uneared womb
Disdains the tillage of thy husbandry?
Or who is he so fond will be the tomb
Of his self-love, to stop posterity?
Thou art thy mother's glass, and she in thee
Calls back the lovely April of her prime;
So thou through windows of thine age shalt see,
Despite of wrinkles, this thy golden time.
But if thou live rememb'red not to be,
Die single, and thine image dies with thee.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"Folhagem de Sombras"

Livro de poesia de um autor que preferiu resguardar-se sob um criptónimo.

"Folhagem de Sombras" é um livro constituído por duas partes, ambas com citações de Oscar Vladislas de Lubicz Milosz (poeta lituano de língua francesa) a introduzi-las.

Constata-se, pela leitura do livro, que o poeta usa de vários recursos estilísticos nesta obra ( seja no que se refere a métrica, a rima, a verso livre), e que os domina a todos com segurança.
O livro tem alguns poemas muito belos, outros um pouco mais artificiais. A linguagem pode ser simples ou rebuscada, conforme os casos. Mas trata-se, quase sempre, de uma poesia que vai directa ao coração, não demasiado popular, mas não esquecendo a lição dos poetas espontâneos, simultaneamente revelando, aqui e ali, a influência de grandes mestres (poetas) de várias eras e contextos culturais.

Aconselhamos a procura e a leitura deste livro de um poeta quase totalmente desconhecido, mas digno de ser lido.

O título "Folhagem de Sombras" é muito curioso. Não remete, como poderia parecer à primeira vista, para a sombra das folhas e folhagens de árvores ou de jardins. Aqui, as próprias sombras é que se ramificam, se interpenetram, como que compondo uma folhagem, um folio complexo, como se cada poema remetesse para todos os outros, todos entre todos se comunicando por meio dessa rede um pouco informe mas arborífera da folhagem que entre si todos compõem.


                                                                                                           Marta Lacerda