quinta-feira, 2 de maio de 2013

Phillip Larkin, Vento Nupcial


VENTO NUPCIAL

 
O vento soprou sem parar no dia do meu casamento.
E a minha noite de núpcias foi a noite do vendaval;                                 
A porta do estábulo batia, batia tanto,
Que ele teve de ir fechá-la. Deixou-me
Estonteada à luz da vela, a ouvir bater a chuva;
Olhava a imagem do meu rosto no castiçal entrançado,
Sem nada ver. Quando ele se voltou e disse
Que lhe pareceram inquietos os cavalos fiquei triste
Por faltar naquela noite a homens ou animais
A felicidade que eu tinha.


 
                                         Agora já de dia,
Ao sol tudo são novelos emaranhados pelo vento.
Ele saiu para ir ver das inundações e eu
Levo um balde amolgado ao galinheiro,
Espalho o milho e fico a olhar. Vejo o vento
A vergastar nuvens e florestas, a sacudir-me
O avental e a roupa pendurada na corda de secar.
Mas como contas dum rosário desfiadas entre os dedos
A representação de ti no vento perpassa tudo o que faço –
Obsessivamente. Conseguirei de novo dormir
Com esta manhã perpétua partilhando a minha cama?
Poderá a própria morte drenar
Estes novos lagos de prazer, concluir
O nosso ajoelhar como gado junto a águas generosas?

                        

(trad. de Maria Teresa Guerreiro)