terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Sábios portugueses das três tradições


Salomão Molco e o encontro com o cabalista Joseph Caro

Diogo Pires (Lisboa, 1500 - Mântua, 1532), secretário de D. João III, depois da visita a Lisboa do misterioso David Reubeni, vindo da Arábia, mudou de nome para Salomão (ou Solomon) Molco, circuncisou-se a si mesmo (quase encontrando a morte) e, fugindo de Portugal, assumiu a sua condição judaica. Na Arábia do século XVI havia judeus e, no entanto, Salomão Molco haveria de fugir de Portugal e morrer às mãos dos inquisidores italianos...

Visionário, cabalista inspirado, assistido por um maggid (um guia celeste) segundo a lenda: umMaggid apareceu-lhe, encorajando-o e guiando-o desde então, numa altura em que ele, desanimado e cansado de perseguições, pediu um sinal aos céus. O maggid dá-lhe indicações para seguir para a Terra Santa.
Passando pela Turquia oriental encontra o Rabi José (Joseph) Taytazak. Este último, tinha-se ali refugiado, fugido de Espanha, na cidade muçulmana de Salónica e aí cumpriu as funções de Rabi-Mor. Salónica era, depois de Safed, o maior centro de cultura judaica da época. Tal como se diz na Enciclopédia Judaica: "Uma nova era para a comunidade começou com a conquista de Salónica por Amurath (1 de Maio de 1430). Aos judeus foram garantidos direitos iguais aos dos outros habitantes não-Muçulmanos, e os seus rabinos foram colocados no mesmo patamar que os líderes espirituais da Igreja Grega. A feliz condição da comunidade judaica salónica nesta época é descrita por Isaac Ẓarfati numa carta dirigida aos judeus da Alemanha, a quem recomenda que emigrem para a Turquia." (Ver Enciclopédia Judaica, entrada "Salónica"). Também em Salónica esteve o nosso Amatus Lusitanus, refugiado de Portugal e de Itália, onde foi médico do Papa Julius III.

Voltando a Molco, na sua passagem por Adrianopole conhece José (Joseph) Caro. Segundo a tradição, tanto Taytazak como Caro foram favorecidos com um Maggid depois da visita de Molco.
O nosso compatriota, Salomão Molco, passou ainda por Safed, onde, tal como nos outros locais por onde passou, deixou forte impressão. Misteriosamente, regressa a Roma, a "cidade iníqua", onde é aclamado por prever com exactidão a cheia do Tibre (a 8 de Outubro de 1530). Ele e Reubeni conversam com o cruel Carlos V em Ratisbona. Ambos foram presos e levados para Itália. Molco foi condenado à morte, considerado renegado da fé católica, levado para Mântua. Com as chamas lentas já a arder, ainda perguntaram se ele queria reintegrar a fé católica em troca da sua vida. Molco morreu judeu.
A morte deste cabalista e misterioso português causou um choque tremendo em toda a comunidade judaica. Em Safed dizia-se que por lá aparecia Molco todos os fins de tarde de Sexta-feira, entoando a benção do Kiddush sobre um copo de vinho.
Uma nota muito interessante para portugueses interessados nos seus: ainda em 1923, a comunidade judaica de Praga tinha em sua posse uma capa de seda preta e uma bandeira de seda preta que pertenceram ao nosso Salomão Molco. Na bandeira estavam bordados, em seda amarela, vinte e três versículos da Bíblia hebraica, dezanove dos quais retirados dos Salmos.
Depois da morte de Molco, o maggid de Caro começou a aparecer com mais frequência.

Bibliografia:
para além de outras referências bibliográficas, é bastante interessante a peça de Edmond Fleg: Le Juif du Pape.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Um poema de Natal de Pedro Homem de Mello

PEDRO HOMEM DE MELLO  (Porto, 6 de Setembro de 1904 — Porto, 5 de Março de 1984) 
foi um poeta, professor e folclorista português.

Natal

                                                                   
Menino dormindo...
Silêncio profundo.
Bemvindo, bemvindo,
Salvador do Mundo!

Noite. Noite fria.
Mas que linda que é!
De um lado Maria.
Do outro José.

Um anjo descerra
A ponta do véu...
E cai sobre a Terra
A imagem do Céu!