terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Sábios portugueses das três tradições


Salomão Molco e o encontro com o cabalista Joseph Caro

Diogo Pires (Lisboa, 1500 - Mântua, 1532), secretário de D. João III, depois da visita a Lisboa do misterioso David Reubeni, vindo da Arábia, mudou de nome para Salomão (ou Solomon) Molco, circuncisou-se a si mesmo (quase encontrando a morte) e, fugindo de Portugal, assumiu a sua condição judaica. Na Arábia do século XVI havia judeus e, no entanto, Salomão Molco haveria de fugir de Portugal e morrer às mãos dos inquisidores italianos...

Visionário, cabalista inspirado, assistido por um maggid (um guia celeste) segundo a lenda: umMaggid apareceu-lhe, encorajando-o e guiando-o desde então, numa altura em que ele, desanimado e cansado de perseguições, pediu um sinal aos céus. O maggid dá-lhe indicações para seguir para a Terra Santa.
Passando pela Turquia oriental encontra o Rabi José (Joseph) Taytazak. Este último, tinha-se ali refugiado, fugido de Espanha, na cidade muçulmana de Salónica e aí cumpriu as funções de Rabi-Mor. Salónica era, depois de Safed, o maior centro de cultura judaica da época. Tal como se diz na Enciclopédia Judaica: "Uma nova era para a comunidade começou com a conquista de Salónica por Amurath (1 de Maio de 1430). Aos judeus foram garantidos direitos iguais aos dos outros habitantes não-Muçulmanos, e os seus rabinos foram colocados no mesmo patamar que os líderes espirituais da Igreja Grega. A feliz condição da comunidade judaica salónica nesta época é descrita por Isaac Ẓarfati numa carta dirigida aos judeus da Alemanha, a quem recomenda que emigrem para a Turquia." (Ver Enciclopédia Judaica, entrada "Salónica"). Também em Salónica esteve o nosso Amatus Lusitanus, refugiado de Portugal e de Itália, onde foi médico do Papa Julius III.

Voltando a Molco, na sua passagem por Adrianopole conhece José (Joseph) Caro. Segundo a tradição, tanto Taytazak como Caro foram favorecidos com um Maggid depois da visita de Molco.
O nosso compatriota, Salomão Molco, passou ainda por Safed, onde, tal como nos outros locais por onde passou, deixou forte impressão. Misteriosamente, regressa a Roma, a "cidade iníqua", onde é aclamado por prever com exactidão a cheia do Tibre (a 8 de Outubro de 1530). Ele e Reubeni conversam com o cruel Carlos V em Ratisbona. Ambos foram presos e levados para Itália. Molco foi condenado à morte, considerado renegado da fé católica, levado para Mântua. Com as chamas lentas já a arder, ainda perguntaram se ele queria reintegrar a fé católica em troca da sua vida. Molco morreu judeu.
A morte deste cabalista e misterioso português causou um choque tremendo em toda a comunidade judaica. Em Safed dizia-se que por lá aparecia Molco todos os fins de tarde de Sexta-feira, entoando a benção do Kiddush sobre um copo de vinho.
Uma nota muito interessante para portugueses interessados nos seus: ainda em 1923, a comunidade judaica de Praga tinha em sua posse uma capa de seda preta e uma bandeira de seda preta que pertenceram ao nosso Salomão Molco. Na bandeira estavam bordados, em seda amarela, vinte e três versículos da Bíblia hebraica, dezanove dos quais retirados dos Salmos.
Depois da morte de Molco, o maggid de Caro começou a aparecer com mais frequência.

Bibliografia:
para além de outras referências bibliográficas, é bastante interessante a peça de Edmond Fleg: Le Juif du Pape.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Um poema de Natal de Pedro Homem de Mello

PEDRO HOMEM DE MELLO  (Porto, 6 de Setembro de 1904 — Porto, 5 de Março de 1984) 
foi um poeta, professor e folclorista português.

Natal

                                                                   
Menino dormindo...
Silêncio profundo.
Bemvindo, bemvindo,
Salvador do Mundo!

Noite. Noite fria.
Mas que linda que é!
De um lado Maria.
Do outro José.

Um anjo descerra
A ponta do véu...
E cai sobre a Terra
A imagem do Céu!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

El Cant de la Sibilla

The Song of the Sibyl (Catalan El Cant de la Sibil·la) is a liturgical drama and a Gregorian chant, the lyrics of which compose a prophecy describing the Apocalypse.




Fotografia de R. Doisneau




«Que a imaginação te engorde e a matemática te emagreça»
Agostinho da Silva



© Robert Doisneau

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Palmira, na Síria, sob ataque

Palmira, na Síria, um local arqueológico sob o avanço dos tanques e das armas. Sem palavras.
 
Palmyre : Présence d’armes et d’engins de guerre dans la zone archéologique
تدمر : اليات ثقيلة في الحرم الأثري لمدينة تدمر
Palmyra : Multiple rocket launcher and tank positioned in the archaeological area of the ancient site of Palmyra.
 
 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Mariza, Cavaleiro Monge


                                 Mariza na Quinta da Regaleira, canta poema de Fernando Pessoa

sábado, 18 de maio de 2013

Borges, A chave de Salónica


A Chave em Salónica
Abarbanel, Farias ou Pinedo
atirados de Espanha por ímpia
perseguição, conservam todavia
a chave de uma casa de Toledo.
Livres agora da esperança e do medo,
olham a chave ao declinar do dia;
no bronze há outroras, distância,
cansado brilho e sofrimento quedo.
Hoje que sua porta é poeira, o instrumento
é cifra da diáspora e do vento,
como essa outra chave do santuário
que alguém lançou ao azul quando o romano
com fogo temerário acometeu,
e que no céu uma mão recebeu.
Jorge Luís Borges,
in El Otro, El Mismo, 1964


Este belo poema de Borges – que se considerava a si próprio um descendente de judeus portugueses fugidos da Inquisição –, vem a propósito de um interessante post no Abrupto sobre Salónica e sobre os fantasmas de uma cidade que, durante séculos, serviu de refúgio e morada a uma florescente comunidade de judeus portugueses e espanhóis que acabaria por ser aniquilada quase na totalidade pelos nazis entre 1941 e 1944. Hoje, dos sefarditas de Salónica pouco ou nada resta. Aconselho vivamente a leitura do texto de José Pacheco Pereira: Nunca é tarde para aprender: “Las mocicas de agora / todas vistem de tango”.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Arte de Filosofar por Álvaro Ribeiro


Arte de Filosofar

"A arte de filosofar não consiste em escrever livros, em proferir conferências, em minutar lições que, ostensivamente, efectuem transmissão de ensino público. Todas as manifestações da filosofia, que os bibliógrafos registam e os biógrafos explicam, combinando a bibliografia com a biografia, resultam de uma actividade inaudível e invisível a que se dá o nome secreto de pensamento. Maior é o número dos filósofos que cogitam, meditam e especulam, sem que os seus contemporâneos sequer suspeitem, do que o número daqueles que pretendem tornar-se célebres com exibir erudição aprendida em arquivos, bibliotecas ou museus.Cumprindo os ritos religiosos, políticos e morais que são a praxe no círculo social em que preferiu viver e conviver, o pensador sincero fica mais livre para na solidão reflectir sobre os problemas humanos, os segredos naturais e os mistérios divinos. A cada alma esclarecida no cultivo da ciência e inflamada pelo amor da verdade obsidia sempre um só problema, segredo ou mistério, a que atribui primado na ordenação de todas as interrogações que estimulam o pensamento até à hora da iluminação suprema"

- Álvaro Ribeiro, A Arte de Filosofar, Lisboa, Portugália, 1955, p.9.
Poderá também gostar de:



Etiquetas: Filosofia Portuguesa, Álvaro Ribeiro
3 comentários:
Cid disse...
Mais outro grande desconhecido dos portugueses... Grato por recordá-lo.

2 de Maio de 2009 13:43
Pedro Nuno disse...
Álvaro Ribeiro foi daqueles poucos que não esqueceu que o fim último de toda a actividade do espírito é a "iluminação suprema".


2 de Maio de 2009 21:57
Anónimo disse...
Ou a arte de cavalgar... de bem cavalgar em toda a sela?...

A chama coroada, de António Barahona


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Phillip Larkin, Vento Nupcial


VENTO NUPCIAL

 
O vento soprou sem parar no dia do meu casamento.
E a minha noite de núpcias foi a noite do vendaval;                                 
A porta do estábulo batia, batia tanto,
Que ele teve de ir fechá-la. Deixou-me
Estonteada à luz da vela, a ouvir bater a chuva;
Olhava a imagem do meu rosto no castiçal entrançado,
Sem nada ver. Quando ele se voltou e disse
Que lhe pareceram inquietos os cavalos fiquei triste
Por faltar naquela noite a homens ou animais
A felicidade que eu tinha.


 
                                         Agora já de dia,
Ao sol tudo são novelos emaranhados pelo vento.
Ele saiu para ir ver das inundações e eu
Levo um balde amolgado ao galinheiro,
Espalho o milho e fico a olhar. Vejo o vento
A vergastar nuvens e florestas, a sacudir-me
O avental e a roupa pendurada na corda de secar.
Mas como contas dum rosário desfiadas entre os dedos
A representação de ti no vento perpassa tudo o que faço –
Obsessivamente. Conseguirei de novo dormir
Com esta manhã perpétua partilhando a minha cama?
Poderá a própria morte drenar
Estes novos lagos de prazer, concluir
O nosso ajoelhar como gado junto a águas generosas?

                        

(trad. de Maria Teresa Guerreiro)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Esparsa de Camões

ESPARSA

sua ao desconcerto do mundo


Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
Assi que, só para mim
Anda o mundo concertado.

Luís Vaz de Camões



 
O Cabalista de Praga - Marek Halter

Está de parabéns a Bizâncio pela divulgação deste grande escritor, ainda não totalmente reconhecido pelos leitores portugueses.
Praga, “a Jerusalém dos novos tempos”, finais do século XVI. Na capital da cultura hebraica daquele tempo, David Gans é um discípulo entusiasmado e fiel do grão-rabi Loew, o MaHaRaL. Com ele aprenderá os segredos da Cabala, afinal de contas, a grande porta do saber segundo a tradição hebraica. A Cabala é o reino da Palavra; é o mistério que se esconde por detrás dos signos; é a arte de descobrir o significado da Palavra.
A narração é feita pelo próprio David Gans, em pleno século XX. A sua “fala” enquanto morto dá à obra um tom que reforça o enquadramento místico da narrativa.
Mas bem mais palpável que esse encanto místico que rodeia o pensamento hebraico é a terrível realidade: nem Praga escapa às perseguições aos judeus, após um período de paz devido à protecção pelo Imperador do Sacro Império. Os judeus eram considerados culpados da peste que matava aos milhares. Ironicamente eram os judeus que mais próximos estavam de compreender a doença e tratá-la, ou pelo menos preveni-la. Mas essa capacidade de escapar à maleita, em vez de ser encarada como uma fonte de informação era vista como fruto de artes de magia e, por isso, mais um motivo para o ódio.
Mas nem tudo é negro neste livro.
David Gans leva-nos ao encontro das maravilhas do Renascimento, em que os progressos científicos surgem como oásis no meio da ignorância e da superstição. É nesses oásis que Gans nos apresenta Tycho Brahe, o brilhante astrónomo, o grande matemático Kepler e o revolucionário mas silenciado Galileu.
Rodolfo, o Imperador do Sacro Império é uma espécie de mecenas que protege o oásis. No entanto, a sua ambição de poder cega-o e só protege os judeus enquanto tem a ganhar com isso. Depressa se transforma em mais um impávido espectador da brutalidade com que os judeus eram tratados pelos cristãos. E neste aspecto, ao contrário do que por vezes se pensa, os protestantes luteranos não eram menos cruéis e supersticiosos do que os católicos. Também eles encaravam os judeus como origem de todos os males.
Há algum tempo escrevi neste blogue, a propósito de O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler, que nós, portugueses temos razões para nos envergonharmos do nosso passado pelos crimes que cometemos contra o povo judeu. Mas parece-me que não fomos os únicos. Quase toda a Europa, esta Europa que se arvora de ser a pátria da civilização, viveu encandeada por este ódio, por esta onda criminosa que vitimou milhões de inocentes. O anti-semitismo é a vergonha desta “civilização”.
Na parte final deste magnífico livro deparamos com uma espécie de fábula cheia de significado: os judeus de Praga conseguem finalmente encontrar um meio de responder à letra” aos cristãos que os massacravam. No entanto, foi este “Golem” que acabou por provocar a discórdia entre eles, trazendo mais uma semente de violência. Triste lição para a alma humana…
No final, um verdadeiro e belo hino ao poder da Palavra! No fundo é esse o espírito da Cabala – a força da palavra, capaz de fazer nascer um novo Homem! Mesmo na maior das desgraças, há sempre uma semente de fé e esperança!
Avaliação Pessoal: 9/10
(Comentário publicado no Blogue Destante, no âmbito da parceria com a Editorial Bizâncio).

Caderno: Poema

Caderno: Poema: Poema Os teus cabelos recendem a estevas e às descuidadas rosas que por acaso nasceram entre sebes. Já não sei distinguir: és tu que e...

Janela


Ferdowsi, um legado inigualável



 
Os persas consideram Ferdowsi como o maior dos seus poetas. Durante quase mil anos os persas continuaram a ler e ouvir recitações de sua obra-prima. É a história do passado glorioso do Irã, preservada no verso sonoro e majestoso. Apesar de escrito a cerca de 1.000 anos atrás, este trabalho é tão inteligível para os modernos falantes do persa quanto a versão do Rei James da Bíblia para um moderno falante do inglês. A linguagem original é o Pahlavi, um persa puro com uma mistura mínima do árabe.
- Encyclopædia Britannica

Estátua de Ferdwosi em Teerão

    Hakim Abol Qasem Ferdowsi Tousi (ou Firdausi), nasceu em Khorasan em um vilarejo perto de Tus (Nordeste do Irã), no ano de 935. Seu grande épico, o Shahnameh,"O Livro dos Reis", ao qual ele dedicou a maior parte de sua vida adulta, foi originalmente composto sob patrocínio dos príncipes samânidas de Khorasan, que eram os principais instigadores da revitalização das tradições culturais persas após a conquista árabe do século VII. Durante a vida de Ferdowsi esta dinastia foi conquistada pelos turcos Ghaznavidas, e há várias histórias em textos medievais que descrevem a falta de interesse demonstrada pelo novo governante de Khorasan, Mahmoud de Ghaznavi, por Ferdowsi e sua vocação. Diz-se que Ferdowsi morreu por volta de 1020 na pobreza e amargurado pela negligência real, embora confiante em sua fama e em seu último poema. O Shahnameh, além de ser um épico nacional é um dos grandes clássicos da literatura mundial que conta a saga dos heróis da antiga Pérsia. A forma e estilo com que o poeta descreve os eventos leva os leitores de volta aos tempos antigos e faz com que estes sintam-se vivenciando os eventos. Ferdowsi trabalhou durante trinta anos para terminar esta obra-prima e é considerado como o maior poeta persa.

De acordo com Nezami, Ferdowsi era um dehqan (classe de fazendeiros aristocratas extremamente patriotas), de onde obtinha uma renda confortável a partir de suas propriedades. Ele tinha apenas uma filha, e foi para fornecer a ela um dote que ele se lançou à tarefa que o ocupou por mais de 30 anos (outras fontes contam que ele também teve um filho que morreu aos 37 anos a quem ele dedicou uma elegia que foi incluída no Shahnameh).


O Shahnameh de Ferdowsi, um poema com cerca de 60.000 versos, é baseado principalmente em uma obra em prosa de mesmo nome e foi compilada no início da vida adulta do poeta em Tus, sua terra natal. Este Shahnameh em prosa era em grande parte a tradução de uma obra Pahlavi (Médio persa), o Khvatay-Namak, uma história dos reis da Pérsia desde os tempos míticos até o reinado de Khosrow II (590-628 EC), mas também continha material adicional continuando a história até a derrubada do sassânidas pelos árabes em meados do século VII. O primeiro a realizar a versificação desta crônica da Pérsia pré-islâmica e lendária foi Daqiqi, um poeta da corte dos samânidas, que teve um fim trágico após completar apenas 1.000 versos. Estes versos, que tratam da ascensão do profeta Zoroastro, foram mais tarde incorporados por Ferdowsi, com confirmações devidas, em seu próprio poema. Uma característica importante deste trabalho é que, durante o período em que o árabe foi conhecido como a principal língua da ciência e da literatura, Ferdowsi utilizou-se apenas do persa em sua obra-prima. Como diz o próprio Ferdowsi "a língua persa é revivida por este trabalho".
De acordo com Nezami, Ferdowsi era um dehqan (classe de fazendeiros aristocratas extremamente patriotas), de onde obtinha uma renda confortável a partir de suas propriedades. Ele tinha apenas uma filha, e foi para fornecer a ela um dote que ele se lançou à tarefa que o ocupou por mais de 30 anos (outras fontes contam que ele também teve um filho que morreu aos 37 anos a quem ele dedicou uma elegia que foi incluída no Shahnameh).

O Shahnameh de Ferdowsi, um poema com cerca de 60.000 versos, é baseado principalmente em uma obra em prosa de mesmo nome e foi compilada no início da vida adulta do poeta em Tus, sua terra natal. Este Shahnameh em prosa era em grande parte a tradução de uma obra Pahlavi (Médio persa), o Khvatay-Namak, uma história dos reis da Pérsia desde os tempos míticos até o reinado de Khosrow II (590-628 EC), mas também continha material adicional continuando a história até a derrubada do sassânidas pelos árabes em meados do século VII. O primeiro a realizar a versificação desta crônica da Pérsia pré-islâmica e lendária foi Daqiqi, um poeta da corte dos samânidas, que teve um fim trágico após completar apenas 1.000 versos. Estes versos, que tratam da ascensão do profeta Zoroastro, foram mais tarde incorporados por Ferdowsi, com confirmações devidas, em seu próprio poema. Uma característica importante deste trabalho é que, durante o período em que o árabe foi conhecido como a principal língua da ciência e da literatura, Ferdowsi utilizou-se apenas do persa em sua obra-prima. Como diz o próprio Ferdowsi "a língua persa é revivida por este trabalho".


Ferdowsi e os poetas da corte Ghaznavida

   Segundo a lenda, o sultão Mahmoud de Ghazni ofereceu a Ferdowsi uma peça de ouro para cada verso do Shahnameh. O poeta concordou em receber o dinheiro de uma só vez quando terminasse o trabalho pois, ele planejava usá-lo para reconstruir os diques de Tus, sua cidade. Depois de trinta anos de trabalho, Ferdowsi terminou a sua obra-prima, o Shahnameh, em 1010, e foi apresentá-la a Mahmoud, que nessa época havia se tornado governador de Khorasan. De acordo com Nezami, Ferdowsi veio a Ghazni pessoalmente e através dos serviços do ministro Ahmad Ebn Hasan Meymandi foi capaz de garantir a aceitação do poema perante o sultão. Porém, infelizmente, Mahmoud consultou certos inimigos do ministro que sugeriram como recompensa para o poeta a desprezível quantia de 50.000 dirhams, e mesmo assim, ainda disseram que era demais, em vista de suas doutrinas heréticas xiitas. Mahmoud, um sunita fanático, foi influenciado por essas palavras, e no final Ferdowsi recebeu apenas 20.000 dirhams. Amargamente desapontado, ele foi para o banho público e, ao sair, foi tomar um gole de foqa (um tipo de cerveja) e acabou dividindo todo o dinheiro entre o atendente da casa de banhos e do vendedor do foqa. Temendo a ira do sultão, ele fugiu, primeiro para Herat, onde se escondeu por seis meses, e depois, pelo caminho de Tus, para Mazanderan, onde encontrou refúgio na corte de Shahreyar Sepahbad, cuja família reivindicava ser dos últimos descendentes dos sassânidas (a última dinastia pré-islâmica do Irã). Ali Ferdowsi compôs uma sátira de 100 versos sobre Sultan Mahmoud que inseriu no prefácio do Shahnameh e o leu para Shahreyar, ao mesmo tempo, oferecendo-se para dedicar o poema a ele, como um descendente dos antigos reis da Pérsia, em vez de Mahmoud. Shahreyar, no entanto, convenceu-o tirar a sátira a Mahmoud, e comprou-a pelo valor de 1.000 dirhams por verso. O texto integral desta sátira, tendo todos os sinais de autenticidade, sobreviveu até o presente. De acordo com a narrativa de Nezami, Ferdowsi morreu intempestivamente, assim como o sultão Mahmoud havia resolvido pedir desculpas ao poeta , enviando-lhe 60.000 dinares, mas quando a caravana levando o dinheiro chegou em Tus reuniu-se um cortejo fúnebre: o poeta havia morrido. Nezami não menciona a data da morte de Ferdowsi. A primeira data determinada pelas autoridades é 1020 e a mais recente é 1026, só se sabe ao certo que ele viveu mais de 80 anos.
Ferdowsi foi enterrado em sua própria horta, no cemitério muçulmano de Tus onde um governador Ghaznavid de Khorasan construiu um mausoléu sobre o túmulo que se tornou um local reverenciado. O túmulo, que tinha entrado em decadência, foi reconstruído entre 1928 e 1934 sob as ordens do Xá Reza e agora se tornou o equivalente a um santuário nacional.

O Legado de Ferdowsi


Túmulo de Ferdowsi na cidade de Tus
Depois do Shahnameh de Ferdowsi uma série de outras obras semelhantes surgiram ao longo dos séculos dentro da esfera cultural da língua persa. Sem exceção, todas essas obras foram baseadas no estilo e no método do épico, mas nenhum deles conseguia alcançar o mesmo grau de fama e popularidade como a obra-prima de Ferdowsi.

Ferdowsi tem um lugar único na história persa por causa dos avanços que ele fez em revitalizar e regenerar as tradições linguísticas e culturais persas. Seus trabalhos são responsáveis por manter grande parte da língua persa codificada e intacta. A este respeito, Ferdowsi supera Nizami , Khayyam , Asadi Tusi e outras seminais figuras literárias por seu impacto sobre a cultura e a linguagem persa. Muitos iranianos modernos o consideram como o pai da língua persa moderna.

Ferdowsi inspirou o Reza Shah Pahlavi na criação da "Academia de Cultura" no Irã, para tentar remover palavras em árabe e turco da língua persa, substituindo-as por alternativas adequadas em persa. Em 1934, o Xá instituiu uma cerimônia em Mashhad, na província doKhorasan para comemorar mil anos de literatura persa desde a época de Ferdowsi, intitulada "Ferdowsi Millenary Celebration "convidando notáveis ​​estudiosos europeus e iranianos. Em Mashhad, há uma universidade criada em 1949 que também leva o nome de Ferdowsi.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

2 Poemas de Emily Dickinson

Aqui ficam duas traduções de Manuel Bandeira de Emily Dickinson:


BELEZA E VERDADE
Morri pela beleza, mas apenas estava
Acomodada em meu túmulo,
Alguém que morrera pela verdade
Era depositado no carneiro contíguo.

Perguntou-me baixinho o que me matara:
- A beleza, respondi.
- A mim, a verdade – é a mesma coisa.
Somos irmãos.

E assim, como parentes que uma noite se encontram,
Conversámos de jazigo a jazigo,
Até que o musgo alcançou os nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.


NUNCA VI UM CAMPO DE URZES

Nunca vi um campo de urzes.
Também nunca vi o mar.
No entanto sei a urze como é,
Posso a onda imaginar.

Nunca estive no Céu,
Nem vi Deus. Todavia
Conheço o sítio como se
Tivesse em mãos um guia.
Em 27 de Janeiro comemorou-se o dia Internacional das Vítimas do Holocausto às mãos dos nazis.
Aqui fica este singelo testemunho, com alguns dias de atraso.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pásion - Rodrigo Leão

                                                                                    Excepcional

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

The poem of the Atoms (do filme Bab'Aziz)




Sinopse

Um poema visual de enorme beleza, uma obra de arte de Nacer Khemir, Baba Aziz encerra a trilogia do deserto. O filme inicia-se com a estória de um dervixe chamado Baba Aziz e sua neta espiritual, Ishtar. Juntos, percorrem o deserto atrás de uma grande reunião de dervixes que ocorre uma vez a cada 30 anos. Tendo a fé como único guia, os dois viajam por vários dias pela imensidão. Para ajudar a suportar a viagem, Baba Aziz passa a contar estórias do príncipe do deserto que contemplava sua alma ao lado de uma pequena piscina. No decorrer da narrativa, os viajantes encontram outros que também contam suas estórias.Repleto de imagens maravilhosas e belíssima música, Nacer Khemir criou uma fábula inédita e encantadora filmada nas areias da Tunísia e do Irã. O roteiro desse filme foi escrito pelo próprio Khemir, em parceria com Tonino Guerra, autor de diversos roteiros de grande sucesso (Amarcord, Night of the Shooting Stars, Blowup, entre outros)

Título Original: Bab'Aziz , le prince qui contemplait son âme
Gênero: Aventura, Drama, Fantasia
Estreia no Brasil: 2006
Duração: 96 minutos

Seven Advices of Mevlana RUMI:

1. In generosity and helping others be like a river.
2. In compassion and grace be like the sun.
3. In concealing others' faults be like the night.
4. In anger and fury be like one who is dead.
5. In modesty and humility be like the earth.
6. In tolerance be like a sea.
7. Either exist as you are or be as you look."