quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vales de verdes pinos tão sozinhos

Barros de Beja



Ledos campos de Outrora! em plena festa.

Por onde a minha infância,

Ditosa, decorreu,

Entre fumos de cálida fragrância,

Deslumbramentos, extases do Céu.

Que resta

Desse inefável, em que tudo abria

Em flor e lumes siderais,

Desse inefável de algum dia ?

Vago, indistinto

Sorrir de pôr-do-sol -um sonho extinto...

Uma saudade a desfolhar-se em ais.



Pudesse eu regressar

A mim, volver

Ao intimo do ser,

Ao Anjo em que vivi transfigurado,

De longe em longe, como absorto, a errar...



Plainos de oiro de Beja do Passado,

Da minha clara infância e de outro Mundo,

Libertai-me do sono em que me afundo...

Que eu seja Luz, constelação sagrada,

O' voo para Deus duma «queimada»



Abril de 1960


MÁRIO BEIRÃO




Vales de verdes pinos tão sòzinhos



" Vales de verdes pinos tão sozinhos,

Alumiados da graça do Senhor;

E, em arroubos ao Céu, - jardins em flor

De enlaçadas roseiras sem espinhos...




Ermidas onde ajoelham pobrezinhos,

Sorrindo, como Cristo, à própria dor;

Planícies de enigmático torpor

Onde se escutam vagos murmurinhos...




Por ti, meu pensamento é mais profundo

E o meu canto mais alto se alevanta,

Ó Lusitânia, coração do Mundo!



O mar ergue o teu nome em seus delírios!

E, em tardes de milagre, - ó mais que santa,

Sobre o teu corpo o céu desfolha lírios!


MÁRIO BEIRÃO

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